sábado, 20 de junho de 2009

sonho estranho

são coisas de um eu passado que me deixam em estado de coiso
Primeiro rezo por mim, pra mim, pedindo de mim mesmo todo o entendimento que posso ter sobre a minha pessoa. Adormeço sem respostas e tenho um sonho descolorido: Tu me vais, lentamente, sorridente e triunfante, me deixando pra trás, e o que posso fazer? Nada, somente reproduzo gemidos, ouço um jazz. Acordo com o sussurro do vento, ele me diz pra desistir e quando pergunto de quem/que devo desistir, ele se cala e vai. Todos sempre vão, ninguém permanece. Antes que possa completar qualquer pensamento, uma lágrima percorre o meu rosto e uma tristeza me abraça, envolvente e confortante. Logo estou de braços amarrados e um silêncio pertubador toma o lugar da tristeza. Não é qualquer silêncio. Não é o das línguas cansadas, nem o forçado pela mordaça. É o silêncio do pré-oratório, aquele que queria ser palavra, aquele quase grito, aquele causado pela razão, pelo pensar. Penso, logo me calo. É esse que me envolve, e depois de dançarmos um bolero, finalmente o olho nos olhos e tomo um susto, ele é o meu eu. Eu sou o silêncio, o som mudo, a quase verdade, ou a verdade omitida. Agora o que o vento me disse toma forma, devo desistir de tentar, aliás é desistir sem tentar. Perceber que não vale a pena pode parecer falta de coragem, nesse caso não. Levo um soco no estômago, logo no estômago onde sentia as borboletas voando. Elas todas estão mortas. Cansado, porque apesar de nada ter feito e sequer ter lutado a inércia me cansa, e o desistir foi bastante doloroso. Desabo. Um vazio alvíssimo me adentra pelas narinas. Não há dor, não há gemidos, não há borboletas, não há nada, só o branco cor do leite misturado com o marrom do cansaço. Exausto, ainda tenho forças de ir à janela. Então, tu me reapareces ao longe, não me diz nada e já me desarmas. Sequer se aproximas. Não há nada, quer dizer, somente aquele jazz. As pessoas começam a celebrar a tua volta, vejo abraços e comemorações outras, mas tu não páras de me olhar. Calafrio. Ninguém percebe nada, sequer olham diretamente nos teus olhos. É com um olhar, simples, que me dizes tudo. Os porquês das idas, e o porquê da vinda. Agora sim, as respostas da minha prece. Estavam em ti. Olho, tentando retribuir, e ouço um grito de desespero, me pedes ajuda. Clamas por salvação. De quê? Não tenho tempo de ouvir. Estás se afastando de novo, mas desta vez esse teu olhar, clamando, inflamando de angústia me perturba. Quero te salvar, preciso te salvar. Apesar de sei que isso é o certo. E de certo, tu não sabes das minhas verdades. Há uma compaixão misturada com amor e com paixão – meu veneno. O meu eu, silêncio, dá lugar ao grito. Não há tempo para casulo, aliás, o tempo parou, congelou, por pouco tempo. Houve a metamorfose, seguida de um bater de asas e mais um grito desesperado: o teu nome. Pertencemos um ao outro. As borboletas voltaram. Agora, só há primavera.
(06/06/08)

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