segunda-feira, 25 de julho de 2011

RIP Amy Wino.


É estranho pensar que uma estrela, por mais brilhante que seja, em algum momento tem a sua luz apagada. Pior é imaginar que essa mesma estrela que fora aquel do seu oriente, que rejeu um longo período da sua vida foi justamente a que acabou de apagar. É com esse sentimento estranho de perda que começo esse RIP.

Amy Winehouse é na minha opinião a mais importante cantora deste novo século. E foi genial porque por pior que fosse a sua imagem, ou a sua vida, a música sempre fora o seu ponto mais forte. Me sinto muito penalizado por ela não ter resistido - ou revertido - à sua fragilidade maior: expor e lidar com sentimentos tão avassaladores. Imaginem ter que reabrir uma ferida todas as vezes que se faz o que mais se gosta e sabe fazer. Diferentemente de outros ramos artíticos que usam da arte para expressar os sentimentos, os cantores precisam estar cutucando essas feridas o tempo todo, a cada nova apresentação. E cutucar essa ferida é o que sabem fazer de melhor. Como dizia Piaf: preciso cantar pra me sentir viva. Um ato de autoflagelo tão intenso e tão bonito que em hipótese alguma poderia passar despercebido. Mas expor feridas não cicatrizadas foi sem sombra de dúvidas o grande trunfo e o maior erro de Wino, pois cutucar feridas sangrando só fazia piorar a sua maior matéria-prima, o grande causador de problemas, o objeto catalisador de todas as dores: seus amores, seu marido, sua família, seu pai; Amy nunca teve estrutura emocional para ter feito um cd tão bom quanto Back To Black. Entrou pra história porque resgatou tudo aquilo que vinha se perdendo em tantos anos de amores perfeitos, de fossas rasas: os amores capazes de fazer perder a cabeça, o juízo, a ternura. Capaz de fazer rastejar pela atenção do outro, inconsequente, incontrolado, furioso e igualmente lindo; Ouvi Amy Winehouse mais do que qualquer outro artista na minha vida, aliás segundo meu lastfm, quase o triplo do segundo artista que mais ouvi música. A conheci em uma época muito conturbada da minha vida, de uma ferida graças a muitas lutas e com a ajuda daquele soul londrino todos os dias da minha vida. Estranhei com Rehab, escasquetei na verdade. Parecia qualquer coisa antiga com um toque moderno, o que ao me ver teria todos os ingredientes para ser horroso, tenebroso. Mas não, me estranhava porque não era parecido em nada com tudo o que havia ouvido e ao mesmo tempo me era tão familiar. Já havia ouvido Stronger Than Me mas não era essa música e nem o Frank o grande diamante de sua mãos. Foi preciso Amy dizer pra mim que só precisava de um amigo e não de uma tratamento para me render aos seus encantos. A cada nova música descoberta uma situação que acontecera comigo, foi assim com You Know I'm no Good e com Some Unholy War (na minha opinião a mais linda declaração de amor pós 2000). Chorei inúmeras vezes viajando em Back To Black e fui me emaranhando no ninho do seu cabelo e me entregando no mapa de suas tatuagens e descobrindo coisas lindas como Wake Up Alone (minha música favorita); Lembro que não havia o cd físico em Manaus e me contentava com os mp3 baixados até que de uma só vez encontrei por acaso na Bemol o cd e o dvd, gastei todo o meu dinheiro na época desembolsando pouco mais de 80 reais nos dois e quase virei a noite vendo e revendo a primeira apresentação live que tive acesso. Desse ponto pra comprar Frank e a biografia não demoraram muito. E foi assim, passando por diversas etapas de um ponto obscuro da minha vida que vi e compreendi a obra da Amy, e foi ela que me abriu o peito pra aceitar as outras duas britânicas que apesar de boas jamais foram tão profundas quanto a Amy: Duffy e Adele (aquela altura ainda com 19 aninhos); Afora tudo isso ainda fui contemplado em poder vê-la ao vivo, aliás, ouví-la porque minha visão ficou muito turva de tantas lágrimas que derramei nesse show. Sai em êxtase e todo o esforço de ter viajado pro Rio, mudado data de férias e etc valeram a pena quando aquele corpo frágil remoía as nossas lembranças ali ao vivo, cambaleando, errando letra mas jamais desafinando apenas desafiando a si próprio. Quando saia daquela arena percebia a graça alcançada e sabia indiretamente que ali seria a minha despedida dela: não havia mais volta. Era uma questão de tempo, de quanto tempo ela ainda seria capaz de surportar aquilo tudo. E quando soube da notícia chorei revendo o dvd, porque partia o meu grande elo com aquilo que me fez ruim e também porque diferente de mim, ela não conseguiu. Mas também fiquei feliz, fiquei leve: ela não precisaria de mais nada pra superar o Back To Black, ela voltou para o 'Black', é uma pena que não tenha conseguido voltar mas pelo menos espero que tenha encontrado o que tanto lhe angustiou a vida toda, seja lá o que for.